Já perdi tardes inteiras tentando entender por que meus pais me deram esse nome. Eu sei que, pra vocês, pode parecer falta de ocupação (e não deixa de ser). Mas isso é uma questão filosófica acerca de minha própria identidade, então, eu tenho mais é que desperdiçar meu tempo mermo!
Sempre páro no mesmo ponto: ou eles quiseram revolucionar a língua portuguesa, numa miscigenação de radicais que formam uma palavra um tanto quanto estranha, e assim, chocar a sociedade; ou foi porque eles não tinham nada na cabeça mesmo. Eu acredito na segunda opção, apesar de, pra me fazer sentir mais confortável comigo mesma, me inclinar mais à primeira.
Meus pais se mostraram dois tremendos egoístas! Será que eles realmente não pensaram que eu já teria problemas suficientes com o “Kleinsorgen” do sobrenome? Nem que eu ia passar metade da vida escrevendo “Cruz” com ésse, porque me preocupava demais com o “Thayrine”? Será que eles não pensaram que eu teria dificuldades de relacionamento por ter passado toda a infância sendo caçoada? Será que eles não pensaram nas horas intermináveis que eu ia ter que perder pra soletrar meu nome pra alguém escrever? Ou mesmo pronunciar? Será que eles não pensaram na chamada, quando os professores demorariam pra me chamar porque: a) demorariam pra conseguir juntar as sílabas e b) depois de conseguir juntá-las, demorariam pra acertar a pronúncia? Será que eles não pensaram que eu seria a última da chamada, uma vez que o número de pessoas cujo nome começa com as letras U ou V ou X ou Z é muito pequeno e que, por isso, eu ia levar inúmeras faltas sem conseguir prestar atenção até chegar a minha vez? Será que eles não pensaram que quase todos os meus documentos viriam grafados de uma maneira estranha ou porque a pessoa pra quem eu soletrei perdeu alguma parte ou quis zoar com a minha cara? Será que eles não pensaram que no futuro criariam um programa cuja atração principal seria um bloco de soletração, e a palavra com maior grau de dificuldade seria justamente o “Thayrine”? Será que eles não pensaram que eu posso ser passada pra trás na hora de achar um emprego porque um “Amanda” é muito simples? Será que eles não pensaram que no dia do meu casamento o padre ainda vai gaguejar, mesmo tendo ensaiado durante toda a semana? Será que eles não pensaram que, quando eu me apresentasse, as pessoas diriam “Bonito nome” com um sorrisinho babaca estampado na cara? Será que eles não pensaram que meus filhos inventariam um nome qualquer pra mim para não ganharem um achaco de herança? Será que eles não pensaram que se eu falasse “Thayrines do mundo, uni-vos!” eu não ia conseguir fazer nenhuma revolução? Pior: será que eles não pensaram que eu ia detestar esse nome?
É, eu acho que eles não pensaram.