Minha vida sempre foi uma sucessão de pequenas perdas. Às vezes, perdi por escolha, por achar num certo momento que meu caminho deveria seguir pra outro lado, e que esse novo rumo não suportava determinadas cargas. Outras, perdi porque quis ficar parada num mesmo pedaço empoeirado da estrada, e aí um vento forte me atingiu nas costas e pfffu... carregou um pedacinho de mim prum outro canto. E todas as opções eram regadas a muitas lágrimas, muitas mágoas, como qualquer morte.
Mas eis que em alguns momentos ando em círculos e, quando isso acontece, acabo tropeçando mais uma vez em algum antigo fardo esquecido pelo caminho. E, mesmo pensando duas vezes, decido amarrá-lo à minha trouxinha de viagem (que é vermelha de bolinhas brancas, diga-se de passagem) e sigo por um tempo feliz, na medida do possível, e saudosa como em qualquer momento.
E assim vou seguindo, abandonando e sendo abandonada, encontrando e desistindo outra vez. Talvez desistindo menos do que encontrando; cest la vie.
Mas não é que num outro dia dei uma topada naquela velha pedra no meio do caminho, ao lado daquele raminho de pimentas vermelhas, abaixei para pegá-la em meio a um turbilhão de palavrões, típico de quem sofre dum dedo mindinho esfolado, e nela estava escrito em runas antigas (inventadas pelos elfos, é claro): Quotidiano.