Estava havia muito sem alugar filmes. Não sem ver nenhum, embora os que eu andava vendo não eram exatamente o que eu escolheria ver, se tivesse oportunidade. Mas o que mais me irritava era ver meus amigos no mesmo ritmo de antes, alugando toneladas e discutindo sobre elas –enquanto eu olhava distraidamente pra cara da Claudia Raia que depois de anos e anos de televisão ainda não aprendeu a ser uma boa atriz. Enfim, cansei. E a gota d’água veio exatamente no momento em que passei na rua de carro e vi uma dessas minhas amigas do ritmo cinematográfico alucinante com um saco gigante de filmes na mão. Enciumei-me e fui muito irritada à locadora. Aluguei tudo o que o dinheiro e o tempo permitiram, e voltei a ficar bastante feliz e posuda.
Chegando em casa, vi que todos tinham decidido fazer a mesma coisa que eu: enriquecer as locadoras municipais. Tanto melhor! Além dos filmes que eu escolhi, ainda ia poder ver os que minha mãe, meu pai e meu irmão alugaram, embora isso não tenha acontecido de fato.
À tarde de terça-feira (eu os aluguei no sábado e tinha que entrega-los na quarta), todos os meus filmes haviam-se esgotado. Restavam os da família. Dei uma olhadela; acabei optando por um da Disney, cujo anterior havia passado há poucos dias na Globo, e a história ainda estava fresca na minha cabeça: A Lenda do Tesouro Perdido.
O filme, provavelmente proveniente dessa onda códigodaviceniana a que estamos passando (e isso não é um crítica, nem positiva nem negativa), conta a história de um homem que descobriu que um de seus antepassados havia ajudado a abafar uma conspiração contra o presidente Lincoln, depois da Guerra de Secessão, queimando um diagrama codificado. Tal diagrama mostrava onde estaria localizada uma cidade ameríndia feita quase totalmente de ouro, e era procurada pelos conspiradores. Na verdade, a trama começa quando outro homem interpreta os fatos de outra maneira, fazendo com que de mocinho, o tal antepassado do protagonista, passasse a ser bandido e, no caso, conspirador, que inclusive havia ajudado a matar o então presidente, Lincoln. Essa acusação faz com que o protagonista comece a buscar pistas de onde estaria localizada a cidade do ouro e salvar a sua reputação familiar, que a essa altura já estava bastante abalada.
Misturando história e suspense, foi até legal assisti-lo numa tarde de terça-feira. E, sinceramente, foi também instigante. Mas o que, de verdade, chamou a minha atenção, foi uma frase dita por um fulano, quando eles decidiram invadir a sala do presidente com o intuito de investigar a mesa a qual ele sentava. “Mas lá é onde sentam os homens mais inteligentes do país!” Essa frase realmente mexeu comigo e me fez pensar na nossa realidade política, e talvez até invejar os EUA.
Que os Bush foram uns dois grandes merdas, vá lá, mas ninguém pode negar que eles foram ao menos inteligentes pra fazer suas porcarias. Eu nunca os ouvi dizendo que não sabiam de alguma coisa que grupos de pessoas roubavam absurdas quantias do dinheiro público só pra livrar a sua imagem. Eu nunca vi o povo americano, frente a uma roubalheira política, baixar a cabeça e dizer “sempre foi assim, por que hão de mudar agora?”, e continuar votando insistentemente no mesmo candidato.
Os anti-americanos que me perdoem, mas merdas mesmo somos nós.