Nunca conheci um cara que escrevesse tantos sinônimos para as palavras canalha e ladrão, como o Arnaldo Jabor. É fato que eu não o li muito, porém o é também que não se precisa fazer isso pra descobrir esse profundo tesão que ele tem por pulhas, vigaristas, tartufos, songasmongas, embusteiros, calhordas, trampistas, negadores, defraudadores, pichelingues, unhantes, ratoneiros, gatunos, trabuqueiros, ladravazes, e outros tantos.
Não preciso nem dizer que para lê-lo, é necessário um dicionário ao lado, uma vez que nem mesmo o Windows reconhece tamanha quantidade de palavras. Eu mesma nem as terminei de pesquisar, visto que o mini-dicionário que me emprestaram também não dispunha de tais definições para dessedentar as minhas (muitas) perguntas. Resultado: insônia!
É incrível como, em meio à boçalidade geral da nação brasileira, conseguem surgir criaturas capazes de transformar a realidade conspurcada em que vivemos numa literatura tão sutil e ao mesmo tempo tão virulenta. Pois é isso que esse camarada faz; usurpa o nosso cotidiano político e pessoal e o transmuta a uma beleza óbvia que ulula, ainda que muda, diante de nosso olhos pueris.
Sempre tive uma queda pelo Jabor. Quando o via no jornal, criticando com tanta irreverência as nossas cagadas políticas, fazendo aqueles mil gestos sempre tão parecidos, defendendo com tanto afinco os filmes do Glauber, achava-o sensacional. Até o meu avô dizia que, só se eu fosse assim, valeria a pena escolher a profissão que eu escolhi. É claro que às vezes eu ficava com raiva, tamanha era lista de reclamações que ele tinha. Mas aí eu pensava e ouvia, concordando ou não, ele tava certo em reclamar, e eu que tava errada em dizer que ele era chato por faze-lo. Pudera, eu não vivia em sessenta e oito; faço parte da geração acomodada, da “macarena”, Spice Girls e É O Tchan!.
Que já tem até criancinha pedindo pra ser Chico Buarque não é novidade pra ninguém; mas eu to começando a acreditar que, mesmo sem o charme galante de um dos maiores compositores da música brasileira, Arnaldo Jabor é, sem dúvidas, um inventor de moda em potencial.
5 comentários:
Jabor e a Tharas
=P
Esse texto é um estágio pra escrever com ele, precisei de dois dicionários, um de sinônimos da língua portuguesa e um de antônimos em latim pra lê-lo. O.o
É bom ouvir o Jabor e suas chatices. Bem da verdade, o que ele fala é assunto de todos nós.
Mil significados indecifráveis, no entanto, só deveriam aparecer no JG, ou sei lá... Em um jornal a que ninguém assistisse. Tantos termos transformam o que deveria ser holístico em hostil.
Essas coisas que ele disse eu tirei de um texto. Na verdade, de um único parágrafo da última crônica de Pornopolítica.
Meu, esse cara viaja. Sou absolutamente contra escrever dessa forma tão rebuscada. Ok, naquele trecho do livro isso era arte, mas isso afasta as pessoas da leitura por pensarem que não são aptas para ler por causa do vocabulário.
Ou isso, ou eu sou a única pessoa inculta que visita esse blog.
A parada foda nele é exatamente isso: ele consegue usar palavras muito rebuscadas num texto que flui. Inclusive, ele é até bastante coloquial. Ao invés de afastar as pessoas, ele aumenta o vocabulário delas.
Absolutamente sensacional!
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